quarta-feira, 25 de março de 2009

Pequenas Memórias - VIII


Das Fábricas

O relógio parou mas dentro
dos muros da velha fábrica
abandonada uma figueira renasce
e de novo fico à espera dos doces figos
de outrora sentado num banco de pedra
até à hora do canudo
descanso de um antigo operário.

Os inúmeros caminhos que aqui
chegaram de todos os lugares;
caminhos hoje lamacentos
amanhã ressequidos de sol;
telhados fendidos janelas quebradas
muros a esboroarem-se em musgos
pedras casa de gatos vadios e lagartas:
quase nada.

Os homens chegavam de terras longínquas
Roriz, Lamoso, Paços de Ferreira...
Chegavam aqui iluminados pelos ímans
das bicicletas fechados um dia no
matraquear violento dos teares;
no intervalo comiam o caldo
as meias sardinhas as laranjas
de umbigo fora de horas e cansados
iam de novo pela noite dentro
atravessar montes e povoados
até ao fim do mundo
até ao fim da vida ...

1 comentário:

Daniel Martins disse...

É triste ver na nossa vila lugares como esse completamente abandonados e à mercê do tempo.
Mas, tal como refere, no meio de tanta ruína nasce e floresce a figueira.