A Têxtil nos Poetas e nos Prosadores de Vila das Aves
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“O comendador levanta-se e vai encostar-se ao batente de uma janela. Tira de quando em quando uma fumaça do seu charuto.
A um aceno do comendador, Ricardo ergue-se da cadeira e vai encostar-se à mesma janela mas do lado contrário.
Olham ambos lá para fora e o comendador estende o braço direito e com a mão aponta o local onde, diz, vai mandar construir um bairro de casas de renda económica.
- Sabes Ricardo. Delfina diz que é uma “toléria” a minha ideia. Que não vale a pena, que já estou velho para andar a incomodar-me com estas coisas...
Mas eu estou com esta ideia ferrada na cabeça e tem de ser. Mas digo. Não haverá festa, nem discursos, nem corte de fita – porque não haverá fita – nem convidados, nem benzeduras. E dou-lhe o pretexto de casas económicas cá por coisas...
Mas as casas que vou mandar construir são para dar aos meus operários. Aqueles que não tem casa. Dá-las. Dá-las simplesmente. Está na moda esta forma de fazer socialismo. Mas tudo isso não passa de uma uma bambochata.
Dava-se ao operário um ordenado compatível e sociedade na empresa, porque se o patrão é o senhor do capital, o operário é o senhor do trabalho, um tem o dinheiro, o outro tem as mãos – e ele que fizesse ou mandasse fazer à sua maneira e a seu bel-prazer a casa e tudo aquilo que necessita. Dar-lhe mais dinheiro e com ele a liberdade de criar e de escolher. Assim o operário é um autêntico escravo! Pior!
Porque com o escravo propriamente dito o seu dono não podia dar-lhe muito maus tratos porque se ele morresse perdia o dinheiro do seu custo e o rendimento do seu trabalho. Agora não!
Ao patrão tanto se lhe dá que o operário morra ou que viva. Para ele é igual. Não perde nada com isso. Um a sair, uma dúzia ao portão a pedir emprego.
“O comendador levanta-se e vai encostar-se ao batente de uma janela. Tira de quando em quando uma fumaça do seu charuto.
A um aceno do comendador, Ricardo ergue-se da cadeira e vai encostar-se à mesma janela mas do lado contrário.
Olham ambos lá para fora e o comendador estende o braço direito e com a mão aponta o local onde, diz, vai mandar construir um bairro de casas de renda económica.
- Sabes Ricardo. Delfina diz que é uma “toléria” a minha ideia. Que não vale a pena, que já estou velho para andar a incomodar-me com estas coisas...
Mas eu estou com esta ideia ferrada na cabeça e tem de ser. Mas digo. Não haverá festa, nem discursos, nem corte de fita – porque não haverá fita – nem convidados, nem benzeduras. E dou-lhe o pretexto de casas económicas cá por coisas...
Mas as casas que vou mandar construir são para dar aos meus operários. Aqueles que não tem casa. Dá-las. Dá-las simplesmente. Está na moda esta forma de fazer socialismo. Mas tudo isso não passa de uma uma bambochata.
Dava-se ao operário um ordenado compatível e sociedade na empresa, porque se o patrão é o senhor do capital, o operário é o senhor do trabalho, um tem o dinheiro, o outro tem as mãos – e ele que fizesse ou mandasse fazer à sua maneira e a seu bel-prazer a casa e tudo aquilo que necessita. Dar-lhe mais dinheiro e com ele a liberdade de criar e de escolher. Assim o operário é um autêntico escravo! Pior!
Porque com o escravo propriamente dito o seu dono não podia dar-lhe muito maus tratos porque se ele morresse perdia o dinheiro do seu custo e o rendimento do seu trabalho. Agora não!
Ao patrão tanto se lhe dá que o operário morra ou que viva. Para ele é igual. Não perde nada com isso. Um a sair, uma dúzia ao portão a pedir emprego.
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Ferreira Neto
Cruzamento (romance), 1963
Edição de Autor
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