sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Pequenas Memórias XX


A Têxtil nos Poetas e Prosadores de Vila das Aves


Saudades



Num labutar amargo e sorridente,
Vila das Aves, mãos de cavadores
Faziam do teu peito uma nascente
De vinhas, milheirais e raras flores...

Mas tudo se mudou, es tão dif`rente
Do tempo em tiveste lavradores:
Agora brota o pão de outra semente
Que germina da força dos motores...

... E este chão que vê passar as horas,
não dará mais pinhões nem mais amoras,
morreram os silvedos e os pinhais...

- Ó minha Vila, doce como o mel,
Hei-de chamar-te sempre São Miguel,
Ouvindo a chilreada dos pardais.


Benjamim Fernandes Valente
Autores Avenses
Vila das Aves, 1985.
Ed. da Junta de Freguesia de Vila das Aves. Volume I

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Pequenas Memórias XIX


A minha Aldeia
Uma malhada
A malhada era uma das actividades em que se dividia o trabalho das ceifas, trabalho realizado ainda os ardores do verão se faziam sentir fortemente.A malhada tinha como objectivo principal, a separação do grão, da palha do cereal que na altura enchia normalmente os campos minhotos: o centeio. Mas a malhada era bem mais que isto; tinha um ritual próprio, por todos os participantes conhecido e respeitado.Os participantes convidados começavam a chegar à eira do "patrão" (o lavrador que promovia a malhada), já o sol declinava no horizonte e a temperatura se tornava mais suportável. Alguns já tinham ajudado na ceifa e, após os cumprimentos da praxe, entretinham-se em amena cavaqueira, em que imperava a boa disposição. Enquanto se esperava pelos convidados importantes (malhadores com créditos bem firmados), ia-se beberricando o saboroso verde tinto, sempre apreciado por quem tinha permanentemente a garganta seca, servido em generosas malgas ou brancas canecas. O "tinto" chegava a ser a imagem de marca do lavrador.Chegada a hora julgada conveniente, cada qual pegava no seu malho e, sob o olhar conhecedor e atento do "polaina" (o malhador mais credenciado) que conduzia o trabalho, tinha início a malhada.Sendo uma actividade onde, apesar de tudo, se dispendia muito esforço, a malhada não deixava de ser ao mesmo tempo um trabalho divertido e uma competição em que cada malhador procurava esmerar-se no que fazia e por isso era apreciado e julgado. E a fama de alguns chegava longe!...
Do Fundo do Baú - Professor José Machado