Outrora um viajante era afortunado depois de subir a avenida Silva Araújo, pela canícula de Agosto, por um banco, uma árvore e uma sombra, no largo da Tojela. A árvore era muito bela, diziam única, por estas redondezas. Alguém assegurava que tinha vindo do Oriente pela mão de um monge de Singeverga. Quando foi derrubada, os mais velhos datavam-na de mais de cem anos. Vim a descobrir que era uma espécie de faveira da América (porque há várias), talvez da Amazónia. Uma árvore que viu todo um século passar-lhe debaixo, como no poema “Velhas Árvores”, do poeta brasileiro Olavo Bilac:
”Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!”
Árvores como esta nunca deveriam ser abatidas.
Mais à frente, o viajante descobria um fontanário, dos vários que havia na freguesia, que nos trazia de uma mina profunda, uma água tão pura como penso que seria a do poço de Jacob. Ninguém era abandonado à sua sorte no impiedoso calor do Verão, e em qualquer lugar, no princípio de uma rua, no fim de um caminho, uma ramada providencial, uma bica de água, um muro baixo, revestido a musgo – e o viajante podia descansar. Por vezes uma enorme carvalheira e o descanso era quase o paraíso.
E o rio? Os muitos lugares mágicos do rio? Do Ave e do Vizela: o Amieiro Galego, o Padre Joaquim da Barca, o Rio Berto, Cense, as Carvalheiras, a Azenha do Pisco?
Aí, cada bando de rapazes, explorava tudo: as pedras, as minas, os esconderijos, as árvores, os animais, os pássaros: todos os buracos eram escrutinados ao pormenor. Descobriam-se raposas, pintassilgos, ninhos de cuco, cobras e peixes... E na época da fruta era um fartote para todos os que andavam na rua. Saltava-se o muro das quintas e dos quintais e apanhava-se as laranjas, as maças, as cerejas e os pêssegos docíssimos, que abundavam e que sabíamos onde os apanhar...
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